Você já parou pra olhar direito as árvores que fazem parte da paisagem gaúcha? Aqui no Rio Grande do Sul, temos um verdadeiro tesouro natural que muita gente passa batido no dia a dia. São nossas árvores nativas, essas companheiras silenciosas que estão por aqui muito antes de qualquer um de nós.
Cresci vendo essas árvores nas estradas, nos parques e até mesmo nas praças da cidade. Cada uma tem sua história, seu jeito e sua importância. Vou te contar um pouco sobre essas preciosidades que fazem parte da nossa identidade gaúcha tanto quanto o chimarrão e o churrasco!
Araucária: o símbolo das terras altas gaúchas

Quem nunca se impressionou com o formato peculiar da araucária? Também conhecida como pinheiro-do-paraná (mas que é bem nossa também!), a Araucaria angustifolia é um dos cartões-postais naturais do nosso estado.
Nas regiões serranas, essas árvores imponentes com suas “copas de guarda-chuva” fazem parte da paisagem há milhares de anos. E não é só beleza, não. A araucária produz o pinhão, aquela delícia que a gente assa na chapa do fogão ou usa pra fazer entrevero.
Infelizmente, o desmatamento reduziu drasticamente a população de araucárias. Bah, é um tristeza ver que essas árvores que podem viver mais de 500 anos estão cada vez mais raras! Por isso mesmo, hoje elas são protegidas por lei.
Pouca gente sabe, mas a araucária é uma árvore tão antiga que conviveu com os dinossauros. É quase como ter um fóssil vivo no nosso quintal!
Ipê-roxo: o orgulho de nossas cidades

Se tem uma coisa que me emociona é ver um ipê-roxo florido em pleno inverno. Essa árvore nativa do Rio Grande do Sul (Handroanthus heptaphyllus) tem flores tão bonitas que parece coisa de outro mundo.
Quando está florido, o ipê perde todas as folhas e se cobre de flores roxas ou lilás, criando um espetáculo que dura poucas semanas por ano. É tipo um show da natureza que acontece bem na época mais fria.
Aqui em muitas cidades gaúchas, o ipê-roxo foi escolhido para arborização urbana. E olha, escolha melhor não tinha. Além de aguentar bem o clima local, ele traz aquela cor incrível quando mais precisamos de alegria no inverno.
Uma curiosidade: a madeira do ipê é tão resistente que era usada pelos antigos para fazer eixos de carretas e rodas d’água. Os mais antigos dizem que “madeira de ipê é ferro que dá em árvore”.
Corticeira-do-banhado: a árvore-símbolo do nosso estado

Tá aí uma árvore com personalidade! A corticeira-do-banhado (Erythrina cristagalli) é tão especial que virou símbolo oficial do Rio Grande do Sul em 1978. Com suas flores vermelhas intensas, ela colore as áreas úmidas do estado entre setembro e dezembro.
O que mais me encanta na corticeira são aquelas flores em formato de crista de galo, um vermelho tão vivo que dá pra ver de longe. Não à toa os beija-flores adoram visitá-la.
A corticeira é daquelas árvores guerreiras, sabe? Ela consegue crescer em áreas alagadas onde muitas outras não sobreviveriam. Por isso, é comum encontrá-la em banhados e na beira de rios.
O tronco dela é coberto por acúleos (aquelas espécies de espinhos) e tem uma cortiça natural que inclusive deu origem ao seu nome. No interior, muita gente ainda usa pedaços dessa cortiça para fazer artesanato.
Guajuvira: a madeira que todo gaúcho conhece

Se você cresceu no interior do estado, certamente já ouviu falar da guajuvira (Cordia americana). Essa árvore nativa do Rio Grande do Sul fornece uma das madeiras mais valorizadas da região.
A guajuvira tem um tronco cinzento bem característico e pode chegar a 25 metros de altura. Mas o que a torna especial mesmo é sua madeira duríssima e resistente.
Foi com guajuvira que nossos antepassados fizeram cabos de ferramentas, moirões de cerca e até carretas. O mais incrível é que essa madeira é tão durável que existem peças com mais de cem anos ainda em uso em fazendas antigas.
As flores da guajuvira são pequenas e brancas, formando cachos que perfumam o ar na primavera. E os passarinhos? Adoram os frutos pequeninos que aparecem depois.
Jerivá: o coqueiro gaúcho

Quem disse que coqueiro é só coisa de praia? O jerivá (Syagrus romanzoffiana) é um tipo de palmeira nativa que aparece em praticamente todo o Rio Grande do Sul.
Com seu tronco esguio e um topete de folhas enormes, o jerivá é facilmente reconhecível na paisagem. No verão, ele produz cachos de coquinhos amarelos que são uma festa para a passarada.
Lembro que quando era criança, a gente quebrava esses coquinhos para comer a pequena amêndoa que tem dentro. Um trabalhão para pouca comida, mas era uma aventura e tanto!
O jerivá é daquelas árvores generosas. Além de alimentar os bichos, suas folhas já foram muito usadas para cobrir ranchos, e as fibras para fazer cordas. É uma árvore completa.
Louro-pardo: gigante das florestas gaúchas

Se você quer conhecer uma árvore imponente de verdade, precisa ver um louro-pardo (Cordia trichotoma) adulto. Essa espécie nativa do Rio Grande do Sul pode chegar a 30 metros de altura!
O que mais chama atenção no louro-pardo são as folhas grandes, ásperas ao toque, um pouco parecidas com lixa. Na primavera, a árvore se cobre de flores brancas perfumadas que atraem abelhas de todo canto.
A madeira do louro-pardo é outro tesouro. De cor amarelada a pardo-clara, é fácil de trabalhar e muito bonita. Por isso mesmo, foi muito explorada para fazer móveis de luxo e acabou ficando mais rara nas matas gaúchas.
Uma boa notícia é que o louro-pardo cresce relativamente rápido para os padrões florestais. Em projetos de reflorestamento, já se consegue ter árvores bem desenvolvidas em 15 ou 20 anos.
Angico-vermelho: o remédio natural da floresta

Tem árvore que é bonita, tem árvore que é útil, e tem o angico-vermelho (Parapiptadenia rigida) que é as duas coisas juntas. Essa espécie nativa tem sido usada por gerações de gaúchos tanto pela sua madeira quanto por suas propriedades medicinais.
A casca do angico é rica em tanino, uma substância adstringente usada para curtir couro. Mas o povo do interior também descobriu que o chá dessa casca ajuda em problemas respiratórios e inflamações.
É uma árvore de crescimento rápido, que pode passar dos 20 metros de altura, com uma copa bem densa que fornece ótima sombra. As flores são pequeninas, reunidas em espigas amareladas que aparecem na primavera.
Ah, e se você passar perto de um angico após uma chuva, vai sentir um cheiro bem característico vindo de suas folhas. É um aroma forte, meio adocicado, que muita gente do campo reconhece de longe.
Por que precisamos proteger nossas árvores nativas?
Você sabia que o Rio Grande do Sul já perdeu mais de 90% de suas florestas originais? É uma estatística triste, mas real. O avanço da agricultura, pecuária e cidades acabou diminuindo muito o espaço das nossas árvores nativas.
O problema é que, quando perdemos essas árvores, não estamos perdendo só madeira ou sombra. Cada espécie nativa faz parte de uma rede complexa de vida. São casas para pássaros, alimento para insetos, proteção para o solo e filtros naturais para a água.
Além disso, nossas árvores nativas estão perfeitamente adaptadas ao clima e solo gaúcho. Elas aguentam as geadas do inverno, os temporais de verão e até períodos de seca. Diferente de muitas espécies exóticas que precisam de cuidados constantes.
Como você pode ajudar?
Se você tem um terreno, por menor que seja, que tal plantar uma árvore nativa? Muitos viveiros hoje já oferecem mudas de espécies do Rio Grande do Sul, e o pessoal da EMATER costuma dar boas dicas sobre como cultivá-las.
Mesmo quem mora em apartamento pode participar de mutirões de plantio, que acontecem regularmente em parques e áreas de preservação. É uma experiência e tanto, vou te contar!
E se você não puder plantar, pelo menos conheça. Visite os parques estaduais, observe as árvores da sua cidade, aprenda a identificar as espécies. Quando a gente conhece, passa a valorizar muito mais.
Nossas árvores nativas do Rio Grande do Sul são parte fundamental da identidade gaúcha. Elas estavam aqui muito antes de nós e, com um pouquinho de cuidado e respeito, vão continuar muito depois. São verdadeiros patrimônios vivos que merecem nosso carinho e proteção.
E aí, já escolheu qual árvore nativa você quer conhecer melhor? Ou quem sabe até plantar uma no seu cantinho? A natureza gaúcha agradece!