Já parou pra pensar que aquela árvore gigante da praça da sua cidade pode ter nascido ali muito antes da cidade existir? Nossas árvores brasileiras têm muito pra contar – vem descobrir esse tesouro verde que tá bem aí na sua frente.
Um Brasil cheio de árvores que são nossas
Vou confessar uma coisa: cresci numa casa com quintal enorme e nunca dei muita bola pras árvores que tinham lá. Eram só… árvores. Até o dia em que meu avô me chamou pra ajudar a colher jabuticabas.
“Essa árvore aqui”, ele falou, apontando pro velho pé de jabuticaba, “é brasileira da gema. Não veio de fora não. Nasceu por essas bandas muito antes de existir Brasil.”
Aquilo ficou na minha cabeça. Como assim, árvores que já estavam aqui antes do país? Foi meu primeiro contato com o conceito de árvores nativas.
E sabe o que são árvores nativas do Brasil, assim, sem enrolação? São aquelas que evoluíram aqui mesmo, nesse pedaço de terra que a gente chama de Brasil. Não foram trazidas pelos portugueses nem por ninguém. Estavam aqui há milhares de anos, se adaptaram ao nosso clima, ao nosso solo, fazem parte da história desse lugar.
Parece simples, né? Mas olha só a responsa: essas árvores sustentam a vida de milhares de bichos, ajudam a manter o ar limpo e as águas correndo, e ainda por cima são lindas de doer.
Por que ligar pras árvores daqui?

Outro dia, conversando com uma galera numa roda, alguém perguntou por que tanto papo sobre árvores nativas. “Árvore não é tudo igual?”
Não é não, meu chapa.
As árvores nativas do Brasil têm uma relação especial com tudo que vive por aqui. Os passarinhos conhecem seus frutos, as abelhas sabem quando suas flores vão se abrir, até o solo “conversa” melhor com suas raízes.
É tipo assim: você prefere morar numa casa que foi feita certinho pro clima da sua cidade ou numa que foi projetada pra outro lugar do mundo? A nativa já tá em casa. Já se acertou com a chuva, com o sol, com o tipo de terra.
Uma vez plantei um pinheiro europeu no quintal da minha tia. Bicho bonito, crescendo bem… até a primeira seca forte. Sofreu, coitado. Já o ipê que nasceu sozinho no canto do terreno tava lá, firme e forte, sem precisar de ajuda.
Nossas árvores brasileiras:
- Aguentam melhor o clima daqui
- Dão comida pra passarada local
- Seguram a terra com suas raízes
- Muitas têm frutos que a gente pode comer
- Algumas curam doenças
- Têm milhares de anos de experiência nessa terra
E o mais triste? Muitas estão sumindo antes mesmo da gente conhecer.
As estrelas verdes de cada canto do Brasil
Nosso país é daquele tamanho, né? Natural que cada cantinho tenha suas árvores especiais. Vou te contar sobre algumas que valem a pena conhecer.
Amazônia: terra das gigantes

No Norte, as árvores parecem querer alcançar o céu. Algumas são tão altas que você fica com torcicolo só de olhar.
- Castanheira: aquela da castanha-do-pará (que nem é do Pará, viu?). Chega a 50 metros de altura! Os frutos são umas bolas pesadas que caem no chão – e ai de quem estiver embaixo. Um senhor que conheci em Belém me contou que perdeu um cachorro assim. O coitado estava no lugar errado, na hora errada.
- Seringueira: essa tem história! Foi dela que tiravam borracha na época do ciclo da borracha. Tem um tronco liso, acinzentado. Se você fizer um cortezinho na casca, sai um líquido branco que parece leite.
- Açaí: todo mundo conhece o suco, mas a árvore mesmo, já viu? É uma palmeira elegante, com tronco fininho cheio de anéis. No topo, um leque de folhas compridas. Os cachos de açaí ficam escondidos entre as folhas.
Uma amiga que nasceu em Manaus me contou que o pai dela media a altura dos filhos comparando com as árvores do quintal. “Você já está do tamanho do pé de cupuaçu!”, ele dizia. Achei genial!
Caatinga: as guerreiras da seca

No Nordeste, as árvores são como o povo de lá: não desistem nunca.
- Juazeiro: fica verde o ano todo, mesmo na seca mais cruel. O pessoal do sertão diz que debaixo dela o solo é sempre fresco. Tem umas frutinhas amarelas que os bichos adoram.
- Umbuzeiro: chamam de “árvore da vida” porque até nos períodos mais secos ela guarda água nas raízes. O umbu (ou imbu) é uma frutinha verde que fica amarela quando madura. Azedinha, gostosa demais no suco.
- Aroeira: além de ser uma árvore resistente, tem propriedades medicinais. A casca e as folhas são usadas para curar vários problemas.
Seu Chico, um vaqueiro que conheci numa viagem pelo interior de Pernambuco, me ensinou: “Se você vê um umbuzeiro grande, sabe que ali tem água embaixo. Elas não mentem.”
Cerrado: muito mais que árvores tortas

O pessoal pensa que no cerrado só tem árvore baixinha e torta. Tem disso também, mas tem muito mais:
- Pequizeiro: dá o famoso pequi, aquele fruto amarelo que deixa a comida goiana e matogrossense com gosto único. Só cuidado com os espinhos escondidos na polpa! Já fiquei com um espinho de pequi enfiado no céu da boca. Experiência que não recomendo.
- Ipê: tem de várias cores. O amarelo é mais comum, mas tem roxo, rosa e branco também. Quando florescem, parecem nuvens coloridas no meio do cerrado.
- Buriti: aquela palmeira alta que sempre indica que tem água por perto. O fruto é um “coquinho” alaranjado que dá um óleo super nutritivo.
Uma história boa: estava numa fazenda em Goiás quando o caseiro me chamou pra ver uma coisa. Era um ipê-amarelo todo florido, mas ainda sem folhas – eles florescem assim. “Tá vendo isso?”, ele falou. “Quando o ipê floresce, é a seca começando a acabar. Daqui a pouco vem chuva.” E não é que ele tava certo?
Mata Atlântica: resistindo nas bordas do país

A Mata Atlântica já cobriu toda a costa brasileira. Hoje resta pouco, mas o que tem é cheio de vida:
- Jequitibá: um dos gigantes das nossas florestas. Pode viver mais de mil anos! O tronco é enorme e a casca vai soltando placas com o tempo. Vi um em Minas que precisava de seis adultos de braços abertos pra abraçar.
- Pau-Brasil: essa é famosa, né? Foi tão explorada que quase acabou. O tronco, quando cortado, mostra uma cor vermelha que parece sangue. Foi daí que veio o nome do nosso país.
- Jacarandá: dá umas flores roxas lindas. A madeira é escura, quase preta, super valorizada pra fazer móveis chiques.
No interior de São Paulo, conheci um senhor que tinha um jequitibá no sítio. Ele calculava que a árvore tinha mais de 400 anos. “Pensa bem”, ele me disse, “quando os bandeirantes passavam por aqui, essa árvore já era adulta.” Dá uma dimensão diferente da história, né?
Sul: as coníferas brasileiras

No Sul, principalmente no planalto, uma árvore domina a paisagem:
- Araucária: também chamada de pinheiro-do-paraná. Tem um formato inconfundível, parece um guarda-chuva gigante. Produz o pinhão, que é uma delícia assado na brasa ou cozido.
- Erva-mate: mais baixinha, com folhas brilhantes. É dela que sai o chimarrão, bebida típica do Sul.
- Guabiroba: árvore menor que dá umas frutinhas amarelas deliciosas. Fazem geleia e até cachaça de guabiroba!
Uma vez, tomando chimarrão com um gaúcho, ele me contou que os agricultores da região usavam as araucárias como uma espécie de bússola natural. “O lado mais ‘cheio’ da copa geralmente aponta pro norte”, explicou. Não sei se é verdade ou lenda, mas achei curioso.
Como reconhecer essas belezuras
Agora, a parte prática: como você começa a identificar essas árvores no seu dia a dia? Não precisa virar especialista, é só prestar atenção.
Olhos bem abertos
Use todos os seus sentidos:
- Olhe o formato geral da árvore
- Repare nas folhas (grandes, pequenas, formato)
- Toque a casca (com cuidado!)
- Observe se tem flores ou frutos
- Se tiver flores, note a cor e o formato
Minha filha de 6 anos já consegue reconhecer o ipê-amarelo, o pau-brasil e a pitangueira só de olhar. Se uma criança consegue, você também consegue!
Aplicativos que ajudam

A tecnologia tá aí pra facilitar nossa vida:
Você tira uma foto da árvore, folha ou flor, e o app tenta identificar. Às vezes erra, mas muitas vezes acerta. É um começo!
Uma vizinha minha, dona Célia, tem 73 anos e usa um app desses no celular. Se essa senhora consegue, qualquer um consegue!
Quem conhece são os mais velhos
As pessoas mais velhas da comunidade geralmente sabem muito sobre as árvores locais. Eles cresceram usando essas plantas de várias formas.
Seu Antônio, um senhor que mora no fim da minha rua, conhece cada árvore num raio de quilômetros. Uma vez mostrei pra ele uma folha que tinha achado no parque. Ele olhou, amassou, cheirou e disse: “Canela-sassafrás. Tem um pé grande perto do lago.”
E sabe que tinha mesmo?
Cada estação traz surpresas
As árvores mudam com as estações:
- Algumas ficam sem folhas no inverno
- Outras florescem na primavera
- Algumas dão frutos no verão
- Outras parecem não mudar nunca
Meu pai tem essa mania de avisar quando o ipê da praça começa a florir. Ele me liga: “Filho, o ipê tá florindo. Vem ver antes que acabe.” E olha que não acabam tão rápido assim, mas é o jeito dele de celebrar as estações.
Plantando o futuro: árvores nativas no seu quintal

Se você tem um espaço, por que não plantar uma árvore nativa?
Escolhendo a árvore certa
Cuidado! Nem toda árvore cabe em qualquer lugar:
- Para espaços pequenos: pitangueira, grumixama, araçá
- Para espaços médios: ipê-de-jardim, quaresmeira, manacá-da-serra
- Para espaços grandes: jequitibá, ipê-amarelo, pau-brasil
Uma amiga minha plantou um ipê no quintal pequeno dela. Hoje, depois de 15 anos, a árvore está enorme e as raízes começaram a levantar o piso da varanda. Escolha com cuidado!
Onde conseguir mudas?
Você pode conseguir mudas de árvores nativas:
- Em viveiros municipais (muitas prefeituras doam)
- Em viveiros especializados
- Em ONGs ambientais
- Trocando com vizinhos e amigos
- Coletando sementes (mas precisa saber como germinar)
Um dia, meu tio apareceu lá em casa com um saquinho cheio de terra. “É uma semente de ipê que catei na praça”, ele disse. Plantamos no fundo do quintal. Hoje, 12 anos depois, é uma árvore linda que dá sombra pra família toda.
Cuidados básicos
Árvores nativas são resistentes, mas no começo precisam de ajuda:
- Regar regularmente nos primeiros meses
- Proteger de formigas cortadeiras
- Colocar uma estaca para apoio se for lugar ventoso
- Não adubar demais
Meu vizinho, seu Carlos, sempre diz: “Árvore é que nem filho. No começo dá trabalho, mas depois cresce e se vira sozinha.”
As árvores nativas do Brasil na nossa cultura

Nossas árvores estão por toda parte na cultura brasileira:
Na medicina popular
Muita gente ainda usa árvores como remédio:
- Casca de aroeira para inflamações
- Folhas de guaçatonga para digestão
- Casca de jatobá para problemas respiratórios
Minha avó tinha receita de “chá de árvore” pra todo problema. Quando eu ficava resfriado, ela fazia um chá de casca de jatobá com mel que, juro, funcionava melhor que muito xarope.
Na comida brasileira
E os frutos deliciosos?
- Jabuticaba direto do pé (quem nunca?)
- Pequi no arroz (cuidado com os espinhos!)
- Açaí batido (diferente do que é vendido por aí)
- Pinhão na festa junina
- Castanha-do-pará (que nem é do Pará) no natal
Uma das minhas melhores lembranças de infância é subir no pé de jabuticaba da casa da minha avó e ficar lá em cima comendo até a barriga doer. Voltava pra casa com a camiseta toda roxa!
Nas festas e tradições
Você sabia que muitas festas brasileiras têm árvores como símbolo?
- O pau de sebo das festas juninas (geralmente um tronco de eucalipto, mas antigamente usavam árvores nativas)
- As folhas de palmeira para o Domingo de Ramos
- A madeira do pau-brasil que já foi usada para tingir tecidos em vermelho
Numa cidade do interior de Minas onde passei uns tempos, tinha uma festa da florada dos ipês. O pessoal fazia piquenique debaixo das árvores floridas e contava histórias. Achei a tradição linda demais.
Nossas árvores estão sumindo!

Agora vem a parte triste: muitas árvores nativas do Brasil estão ameaçadas. Algumas já são tão raras que pouquíssimas pessoas já viram uma de verdade.
Ameaças principais
Por que isso acontece?
- Desmatamento para criar pasto e plantações
- Crescimento das cidades
- Extração ilegal de madeira
- Queimadas
- Espécies invasoras competindo por espaço
Uma vez, visitando o interior de São Paulo, um fazendeiro me mostrou uma área onde tinha derrubado mata nativa para plantar soja. “Precisava produzir”, ele disse. Mas no fundo do terreno, deixou uma pequena área com árvores. “Era o mínimo que eu podia fazer”, confessou.
O que a gente pode fazer?
Mesmo sem ser ambientalista profissional, dá pra ajudar:
- Plante árvores nativas no seu espaço
- Participe de mutirões de plantio
- Compre produtos de empresas que respeitam o meio ambiente
- Denuncie desmatamento ilegal
- Conte para as crianças sobre nossas árvores
Um grupo de amigos meus se reúne duas vezes por ano para plantar árvores numa área degradada perto da cidade. Começaram com 10 mudas. Hoje, 8 anos depois, já plantaram mais de 2.000 árvores nativas. E muitas já estão grandes!
A história que cada árvore conta
Cada árvore nativa do Brasil carrega histórias incríveis. Pense só:
- Um jequitibá de 800 anos viu o Brasil ser “descoberto”, colonizado, ficar independente…
- Uma araucária de 500 anos já estava aqui quando os bandeirantes passavam
- Um pau-brasil adulto testemunhou a exploração que deu nome ao país
Numa visita a um parque em São Paulo, vi uma placa num jequitibá gigante. A placa dizia: “Esta árvore já estava aqui quando São Paulo era apenas uma vila.” Me deu um arrepio.
Pra encerrar: olhe para cima!

Conhecer as árvores nativas do Brasil é como fazer novos amigos. Amigos antigos, que estavam aqui muito antes da gente chegar.
Da próxima vez que você sair de casa, preste atenção nas árvores. Tente identificar pelo menos uma. Repare no formato, nas folhas, na casca.
Quem sabe você não descobre um ipê na esquina, uma pitangueira no parque, ou um pau-brasil escondido numa praça? Nossas árvores estão por toda parte – só precisamos aprender a enxergá-las.
Como dizia meu avô: “Gente que não olha pra cima de vez em quando perde metade da beleza do mundo.”
E você, já olhou pra cima hoje?
Pra não esquecer:
- Árvores nativas do Brasil são aquelas que evoluíram aqui mesmo
- Cada bioma brasileiro tem suas próprias espécies de árvores
- Observar folhas, tronco, flores e frutos ajuda a identificar
- Aplicativos de celular podem ajudar, mas perguntar aos mais velhos é melhor ainda
- Plantar árvores nativas ajuda a preservar nossa biodiversidade
- Muitas árvores nativas estão ameaçadas de extinção
- Nossas árvores fazem parte da cultura, medicina e culinária brasileiras
- Algumas árvores vivem centenas de anos e são testemunhas da nossa história
- Conhecer é o primeiro passo para proteger